quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A Formação do Grupo Senzala (1960 – 1970)

A fusão das duas escolas da moderna capoeira (carioca e baiana) em contexto que permite sua globalização. - A gênese do Grupo Senzala.


A década de 60 é marcada pela simbiose entre as proposta da gestualidade moderna carioca com a baiana, este processo se dá com o Grupo Senzala.O período da década de sessenta foi riquíssimo em termos de transformações culturais, no Brasil e no Mundo de uma forma geral.

No Rio de janeiro, capital cultural brasileira, surgem os grandes movimentos culturais, como a bossa nova, o cinema novo etc. e é o palco do grande movimento contra-cultural que ocorre no mundo ocidental, sendo particularmente a zona sul, da cidade do Rio de Janeiro, o grande o epicentro desta efervescência cultural.Neste contexto, surge o grupo Senzala, que é formado por jovens leitores da capoeira de Sinhozinho e alunos iniciantes de Bimba.

Este é o grande marco da capoeira moderna, pois ao aglutinar estas duas escolas de movimentação induzida, a capoeira toma o impulso da massificação.Em sua fase embrionária, o grupo se percebia fazendo a capoeira regional, do Mestre Bimba e vários fatores contribuíram para isto, primeiro a idéia de criar um espaço capoeira, parte de dois irmãos, os baianos Paulo e Rafael Flores, que foram alunos de Mestre Bimba, alem das influencias sofridas, nesta fase embrionária, por alunos antigos de Bimba como Acordeon, Camisa Roxa e Jair Moura.

Este procedimento levou ao domínio da estrutura organizada do método da capoeira regional, porém as informações da capoeira moderna carioca do Sinhozinho estavam interagindo na invisibilidade, pois a maior parte de seus integrantes que tinham conhecimento de capoeira, anterior a esta fase, foram iniciados pela estrutura do Sinhozinho. Dentre este, temos Gil velho seu irmão Gato e diversos integrantes que participaram desta fase embrionária e não continuaram no mundo da capoeira.

Nesta fase é feita uma grande leitura da capoeiragem que está presente no universo carioca, os integrantes deste contexto inicial trocam e interagem com pesssoal da zona norte, participando das rodas do Artur Emídio e até de torneios em nome de outras agremiações, como foi o caso do torneio do Berimbau de Prata, na praça Rato Molhado em Santa Tereza em 1964, onde participaram em nome da academia de Valdo Santana, que tirou 3º lugar no evento, o primeiro lugar, ficou com a academia Bonfim, que por sinal era de formação baiana.

Em 1966, o grupo oficializa-se com o nome de Senzala, por esta ocasião, seus elementos constituintes eram Gil Velho, Gato, os irmãos Rafael e Paulo, Antero, Mosquito e os mascotes Garrincha e Sorriso. Em breve se aglutinou ao grupo, Preguiça, aluno do Mestre Bimba, Itamar, Cláudio Danadinho, Tabosa, Peixinho, Mosquito e Borracha.

Em 1968 e 69 entram Baiano Anzol, Lua, Caio, Nestor Capoeira, Cipó, dentre outros que, posteriormente, seguiram caminhos independentes.O grupo aumenta seu potencial de diversificação, não só pelo quadro de seus elementos constituintes, mas também pelas constantes viagens culturais pela Bahia e São Paulo onde elementos oriundos da capoeiragem baiana e carioca abrem espaços de capoeira.

Tendo contactos diretos com Mestres como Bimba e Pastinha e boa parte do universo baiano da capoeira.O universo vivenciado pelo grupo, no mundo da capoeira moderna, somado as influências do contexto carioca, deu-lhe um grande potencial diferenciador em relação aos demais, a criação de um estilo de movimentação com um design, onde a influência de outras artes marciais, como o caratê que chega com força no universo carioca, mais as influências do contexto cultural vivenciado, serão os elementos que vão propiciar a criação de uma estrutura de movimentação, cuja forma é congelada a um padrão de excelência, que permite o desenvolvimento de um método eficaz, pois seu movimento pasteurizado tem como objetivo clonar o indivíduo ao padrão edificado, perspectiva da ótica moderna globalizante.

O redesenhamento da estrutura metodizada da comunicação gestual, somada a estrutura rítmica padronizada e a característica do contexto envolvido, como de estar localizada na Zona Sul carioca, ser composta principalmente por jovens universitários, desenvolver uma proposta pasteurizada que se combina ao momento cultural (música, movimentos e tradição brasileira), espaço-tempo do movimento contra-cultural. No evento, Berimbau de Ouro, que foi uma competição de estilos de comunicação gestual, do qual o Senzala sai vencedor por três anos consecutivos (1967, 1968, 1969), deu-se o melhor cenário para projetar o Grupo Senzala, como o grande nome da capoeira nacional.

Neste momento o Rio passa a ter a gerência do movimento nacional de capoeira, não a gerência comercial, mas a influência no processo que vai dominar até os anos 90, do estilo da gestualidade da capoeira. O Senzala é o grande formadora das grandes corporações de capoeira direta ou indiretamente, as quais criam territórios destituídos de identidade, pois não são construídos pelos seus indivíduos, sua construção obedece o mesmo processo da estrutura de uma estado nacionalista, normatiza suas fronteiras e suas formas de convivência, o que não favorece o retorno da identidade perdida da grande e melindrosa "Flor da Gente".



Grupo Malta Senzala

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