sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A Inclusão dos Surdos na Capoeira

Carvalho, Fernando Rogério de


Resumo
Este artigo tem como principal objetivo apresentar o Desenvolvimento Corporal, Mental e Social dos Surdos e sua Inclusão na Capoeira através da análise das competências adquiridas em trabalho teórico/prático para atender essas necessidades. Para melhor entendimento foi feito um profundo estudo bibliográfico da História da Capoeira e da surdez, embasamento teórico utilizando autores como: Ciccone, Reis, Gallaudet, Kirk, entre outros. A capoeira tem sido mostrada e ensinada em todo território nacional e em alguns países, é com este artigo que vejo chegar mais próximo possível da comunidade surda, e mostrar a capacidade do profissional da capoeira ensinar esta arte genuinamente brasileira aos surdos. Contamos também com o histórico da surdez, a cultura surda, contada por alguns escritores. Uma das coisas que mais esta implícita neste trabalho é a maneira pela qual a capoeira se ajusta a pessoas surdas. Trata-se da sua cultura como língua, música, teatro, arte, dança, entre outras atividades corriqueiras em seu dia-dia, como se vestir, religião, sentimentos, idéias. Identidade surda, que só seria adquirida em contato com outro surdo.

Palavras-chave: Surdo; Capoeira; inclusão; Sociabilização, Corpo.

Abstract
Este artículo tiene el objetivo principal de presentar el Desarrollo del Consejo de Administración, mental y la inclusión social de los Sordos y la Capoeira a través del análisis de las competencias adquiridas en el trabajo teórico / práctica para satisfacer estas necesidades. Para mejor comprensión se hizo un estudio exhaustivo de la literatura y la historia de la Capoeira sordera, base teórica utilizando autores como: Ciccone, Kings, Gallaudet, Kirk, entre otros. La Capoeira se ha demostrado y enseña en todo el territorio nacional y en algunos países, es con este artículo que me lo más cerca posible de las personas sordas, y mostrar la capacidad de los profesionales del arte de la capoeira enseñar a los sordos realmente brasileño. También tenemos una historia de la sordera, la cultura sorda, le dijo por parte de algunos escritores. Una de las cosas que esto implica que más trabajo es la forma en que la capoeira apto para personas sordas. Esta es su cultura y su idioma, música, teatro, el arte, la danza, entre otras actividades actualmente en su día-día, la forma de vestir, religión, sentimientos, ideas. Sordos de identidad, que sólo se pueden obtener en contacto con otros sordos.

INTRODUÇÃO

Capoeira Cultura Brasileira: A inclusão dos Surdos na Capoeira. Este artigo vem apresentar os aspectos corporais, mentais e sociais do surdo colocando a capoeira como a atividade física mais completa para seu desenvolvimento, baseado nos aspectos fisiológicos que esta arte traz em seu desenvolvimento. Quando a palavra é saúde já vamos nos preocupar com corpo, (diz: Reis, 2006) que nestes anos na sociedade ocidental o sinônimo de saúde seria entendida como um perfeito funcionamento fisiológico, tendo em presença um corpo saudável. Mas não só pensando em corpos com estado de equilíbrio, pensamos num completo bem estar físico, mental e porque não em uma vida social saudável? Tendo uma vida social saudável podemos nos apresentar com mais saúde e desenvolver as atividades de nosso cotidiano com prazer e harmonia. Em vários aspectos da qualidade de vida e bem estar é incluído o estado somático, funções psicológicas, família, situação sócio-econômica, valores-necessidades, meio-ambiente, doenças, sociedade, cultura, conduta social justa e honesta, autonomia e escolhas, qualidade dos lares, desenvolvimento pessoal, integração comunitária e interação social (Kovac, 1995 apud Reis, 2006).

A riqueza que a capoeira como arte genuinamente brasileira, vem nos oferecer está dentro de todo contexto social vivenciado por todos aqueles que a praticam e estudam de uma forma ou de outra para a sua contextualização histórica e vivencial. Por vários fatores que coloco a pratica desta atividade em questão, fazendo o questionamento inicial deste trabalho numa reflexão sintetizando o objetivo da discussão deste artigo.

A cada dia que passa a capoeira vem crescendo muito, tendo seu início na época dos escravos e evoluindo até os dias de hoje. Considerada por mestres, professores e pela grande maioria das pessoas como uma arte, cultura, esporte e até mesmo uma filosofia de vida, trabalha o aspecto social e corporal de cada indivíduo de uma maneira muito especial, dando o valor que cada pessoa merece. (carvalho, 2003).

Atualmente percebe-se uma procura maior da comunidade surda pela pratica
corporal proporcionada também pela capoeira. Sabe-se que a pessoa surda exige métodos específicos que considerem suas dificuldades de aprendizagem, como o saber do profissional em libras, tendo também habilidades motoras diferenciadas, por parte da ausência de audição.

Conhecendo o próprio mundo do surdo, saberemos como trabalhar para ter o sucesso com as aulas de capoeira.

Sistematizando o aperfeiçoamento da pratica juntamente com a teoria, planejando o trabalho com a pessoa surda, num contexto socioeducativa. A capoeira tem a peculiaridade, em relação às outras modalidades, de favorecer a prática corporal, mas também de investir positivamente na consciência corporal de quem a pratica. Sabe-se que a consciência corporal envolve a imagem do corpo, o qual pode definir-se como instituição global, no conhecimento imediato de nosso corpo, seja em estado de repouso ou em movimento, em função da inter-relação de suas partes e, sobretudo de sua relação com o espaço, tempo e os objetos que nos rodeiam.

Este estudo pode ajudar e orientar profissionais que irão desenvolver o trabalho de capoeira com as pessoas surdas.

A atividade física vem buscar o maior equilíbrio pessoal do educando, conseguir hábitos de comportamento que assegurem certa autonomia e independência em desenvolver atitudes que facilitem na sua interação social.

Histórico da Surdez

As primeiras informações históricas sobre o início de uma sistematização na educação de surdo referem o fato ao início do século XVI.(diz Ciccione, pg,5). Contando que naquele tempo pessoas surdas já se comunicavam em um aspecto de mímica com pessoas não ouvintes. Segundo Ciccione (1972) a utilização sistemática desse tipo de linguagem, porém, terá seu início apenas no final do século XIX na Europa, embora já no século anterior, se tenha noticia do uso de um alfabeto manual que, com ligeiras modificações, é o que tem sido usado até hoje.

Segundo Ciccione foi nos Estados Unidos da América do Norte que nasceu a filosofia educacional que se sistematizou primeiro, em busca de uma comunicação total, dando assim um pleno caráter estratégico na linguagem das mãos.

Em 1815, o professor Norte Americano Thomas Hopkins Gallaudet na busca de um método mais apurado para a instrução de seus alunos surdos, viajou para Europa, mas precisamente na Inglaterra, com a programação muito extensa num período longo de treino e especialização, sentiu-se desencorajado porque o reteria ali por um tempo grande. Mas foi neste país que pela primeira vez teve contato com um representante francês durante uma conferência.

Com um novo método de ensino na língua de sinais que Abade Sicard apresentava, Gallaudet viajou para outro país da Európa, à França no intuito de conhecer mais de perto a alternativa que este conferencista lhe oferecia. Conforme assinala Ciccione (1990). Voltando ao seu país de origem Gallaudet, chegou acompanhado de um surdo francês, cujo nome Laurent Clerc, disposto a fazer uma grande mudança na filosofia educacional norte americana, adotada por seus profissionais.

Cultura Surda

A despeito de os surdos não terem dúvidas quanto a suas identidades culturalmente distintas, as pessoas não-surdas têm muita dificuldade em admitir que os surdos têm processos culturais específicos, então, muitos continuam a tratar os surdos apenas como um grupo de deficientes ou incapacitados.( Sá, 2006).

Falando dos elementos culturais pensamos que seja um conjunto de conceitos para um determinado grupo, expondo sua língua, música, teatro, arte, dança, entre outras atividades corriqueiras em seu dia-dia, como se vestir, religião, sentimentos, idéias. Poche (1989) apud Santana, afirma que, por cultura, entende-se os esquemas perceptivos e interpretativos segundo os quais um grupo produz o discurso de sua relação com o mundo e com o conhecimento, ou qualquer outra proposição equivalente; a língua e a cultura são duas produções paralelas e, além disso, a língua é um “recurso” na produção da cultura, embora não seja o único. Diz Sá, que a cultura surda é socialmente construída como uma sub-cultura , e o objetivo socialmente valorizado passa a ser: tornar os surdos “aceitáveis” para a sociedade dos que ouvem, por isto muitos surdos precisam ser “ferrenhos” ao oferecer resistência à negação de suas identidades.

Podemos dizer também que a surdez é a base narrada daquilo que Carlos Skliar e Ronice Quadros chamam de “quantidades indiscretas, manipuláveis e obscenas” (2000, p.3). A surdez geralmente é tida como limitação e o espaço do convívio cultural e comunitário dos surdos não é valorizado como um “ambiente social” normal – normal costuma ser fingir que é ouvinte e freqüentar uma escola regular comenta (Sá, 2006). A professora Nidia fala também que há uma grande dificuldade de ser entendido a existência da cultura surda porque a maioria das pessoas baseia-se num “universalismo” (2006). Segundo Sá (2006) apud Owen Wrigley (1996), “os universalismos, em todo discurso, são alimentados pela noção de que os seres humanos compartilham propriedades comuns. Esta busca pelo universalismo é acompanhada pela acomodação ou por estratégias usadas para neutralizar os desafios às definições hegemônicas.

A cultura surda refere-se aos códigos próprios dos surdos, suas formas de organização, de solidariedade, de linguagem, de juízos de valor, de arte, etc. Os surdos envolvidos com a cultura surda, auto-referenciam-se como participantes da cultura surda, mesmo não tendo eles características que sejam marcadores de raça ou de nação.

IDENTIDADE SURDA

A maioria dos estudos tem como base a idéia de que a identidade surda está relacionada a uma questão de uso da língua. Contudo, o uso ou não da língua de sinais seria aquilo que definiria basicamente a identidade do sujeito, identidade que só seria adquirida em contato com outro surdo diz Santana e Bergamo. Na realidade o contato do individuo surdo com outro que também use a língua de sinais, surgirá novas possibilidades interativas, de compreensão, de diálogo, de aprendizagem, que fica meio obstruída por meio da língua oral. Assim mostrar-se que a aquisição de uma língua, e de todos os afeitos a ela, faz com que se acredite à língua de sinais a capacidade de ser a única capaz de oferecer uma identidade ao surdo.

A identidade seria uma construção permanentemente (re)feita que buscaria tanto determinar especificidades que estabeleçam fronteiras identificatórias entre o próprio sujeito e o outro quanto obter o reconhecimento dos demais membros do grupo social ao qual pertence. Seria, portanto, nessa relação, no tempo e no espaço, com diferentes outros que o sujeito se construiria. É, com isso, nas práticas discursivas que o sujeito emerge e é revelado. Ou seja, é principalmente no uso da linguagem – e não qualquer materialidade lingüística específica que as pessoas constroem e projetam suas identidades (SANTANA e BERGAMO, 2005 ).

A verdade é que não existe uma identidade exclusiva e única, como a identidade surda. Ela é formada por qualidades sociais diferentes, surdo rico, branco, professor, mãe etc. e também pela língua que se faz a construção de sua subjetividade. Comenta Bergamo e Santana a expressão de Cameron et al. (apud Lopes, 2001, p. 310), “a pessoa é um mosaico intrincado de diferentes potenciais de poder em relações sociais diferentes”. Olhando por esse lado, não terá escolhas na identidade surda, isso independente da nossa mera vontade. São todas determinadas pelas práticas sociais, impregnadas por relações simbólicas de poder. Sendo obvio que essas práticas sociais e essas relações simbólicas de poder não são estáticas e imutáveis ao longo da vida dos sujeitos. Santana e Bergamo diz que a constituição da identidade pelo surdo não está necessariamente relacionada à língua de sinais, mas sim à presença de uma língua que lhes dê a possibilidade de constituir-se no mundo como “falante”, ou seja, à constituição de sua própria subjetividade pela linguagem e às implicações dessa “constituição” nas suas relações sociais.

A identidade não pode ser vista como inerente às pessoas, mas sim como resultado de praticas discursivo e social em circunstâncias sócio-históricas particulares. Tendo em conta o modo em que a surdez é concebida socialmente também influencia a construção da identidade. O sujeito não pode ser visto dentro de um “vácuo social”. Ele afeta e é afetado pelos discursos e pelas práticas produzidos (Santana e Bergamo, 2005).

A problematização do surdo no ajustamento social e pessoal

Tendo em vista que o surdo tem sua cultura própria, quando se fala em sociabilização. Embora a perda auditiva não leve inevitavelmente a dificuldades sociais e de personalidade, pode criar um ambiente em que tais dificuldades aparecem facilmente (Kirk, 1987 apud Meadow, 1980). Como exemplo deste tipo de influência ambiental pode ser ilustrado uma criança surda na sua vez em um determinado momento de atividade onde quer brincar, não consegue dizer “eu quero brincar” ou “Agora é minha vez”, esta criança pode indeterminadamente empurrar a outra, sendo, conseqüentemente, rotulada de “agressiva”, e causando alguma dificuldade de relacionamento interpessoal, (diz Kirk 1987). Com estas repetições de comportamento podem acarretar sérios problemas de adaptação social.

Kirk, 1987 apud Davis, 1981, relatou que crianças com perdas auditivas, estudantes, expressaram sentimentos de solidão e rejeição. As amizades são, muitas vezes, limitadas a uma ou duas, não são escolhidos representantes ou lideres de torcidas de jogos na escola. A perda auditiva na adolescência cria um problema específico com a dificuldade de comunicação.

Crianças anseiam por estarem juntas com outras com características semelhantes, com as quais se sentem aceitas e à vontade. Esta procura por indivíduos da mesma identidade ou seja identidade surda, vai até a idade adulta. Kirk (1987) pode-se observar, em muitas cidades grandes, uma subcultura de indivíduos deficientes auditivos, que formaram um subgrupo, que se casam entre si e geralmente permanecem separados da sociedade dos que têm adição normal.

Histórico da Capoeira

A Origem da capoeira vem da época do Brasil Colônia, na vinda dos negros africanos ao Brasil provocado pelos europeus, com uma finalidade de fazer do país uma fonte para obter riquezas. Em um período bem próximo a 1600, em que a época de exploração era bem acentuada, também em função de mercadorias e lucros, o negro fazia parte da economia passando a ser “comercializado” entre os seus senhores mantendo um trabalho escravo injustiçadamente (atingidos pela desnutrição, maus tratos, doenças...). Longe de toda sua família, cultura e hábitos, tinham os negros apenas a Senzala como moradia. (Carvalho, 2003) contextualizou que freqüentemente, os negros escravos se rebelavam devido à situação em que eram submetidos, e, ainda que não houvesse armas, eles combinavam fugas e tentavam suicídios. Contudo algumas vezes houve êxito dos escravos ao tentarem algumas fugas organizadas, que tinham como conseqüência à formação de vilarejos, chamados de quilombo no meio das matas do nordeste, como exemplo o Quilombo dos Palmares que se fortalecia pela quantidade de negros que recebia de diversos locais, dispostos a recuperarem seus direitos de liberdade, suas tradições e cultura. Por falta de recursos materiais, o negro africano começou a utilizar o seu corpo como forma de defesa e luta contra “capitães do mato”¹, senhores de engenho e capatazes, assimilando os movimentos naturais, reações dos animais e elementos da cultura africana (rituais, danças, brincadeiras, competições) (Carvalho, 2003). (Almeida (1986) apud Reis (2006) explica que o crescimento da cidade sem a economia adequada, com um planejamento sócio-cultural voltado para a inclusão dos escravos recém-libertos expandiu ainda mais a desigualdade social.

Concluindo a capoeira é uma arte/luta que foi originada na ânsia da liberdade dos negros africanos no Brasil, visto que não foi identificada sua manifestação e pratica em outro país antes do período da escravatura (Brasil Colônia). Diz (Carvalho, 2003) que certamente, existia a discriminação de toda sociedade sobre a raça negra escrava por conseqüência das revoltas e duma pratica proibida como a capoeira, que utilizou a ginga como disfarce para uma dança, mais tarde, introduzindo o berimbau para cadenciar os movimentos e dar ritmo às cantigas.

O trabalho corporal na pessoa surda como forma de atividade física.

Entendemos que o Professor de ouvintes vem com um determinado vício de ensino, pois está acostumado a trabalhar com alunos com diferentes aspectos culturais, precisamos entender que a diferença entre ouvintes e surdos é muito grande em questões culturais e na linguagem. Para melhor trabalho o professor terá a difícil tarefa de não ficar mais só na sua área da atividade física, como diz (Lapierre, 2002, pg.44), temos que sair da ambigüidade e assumir uma identidade de analistas e de terapeutas. Precisamos então assumir que somos analistas de corpos, trabalhando para uma vida mais saudável e justa.

O primeiro passo é o conhecimento da língua materna dos surdos a “libras”, onde o profissional terá que estar desempenhando com habilidade, depois o conhecimento da cultura surda, onde esta interligada a vivência do surdo com sua família e amigos, logo após ter o conhecimento do corpo com o qual estará sendo trabalhado.

A capoeira esta ligada ao corpo e seus aspectos motores dentro de algumas mudanças no conceito da educação física, a fim de ampliar o seu significado. Comenta (Reis, 2001, pg; 33) que novos conceitos tendem a contemplar melhoria de qualidades físicas, lazer, prazer, interações interpessoais, criatividade, liberdade, emoção à concepção holista de homem integral e universal, com vistas ao bem-estar bio-psico-social e, principalmente, quanto à concepção de “corpo”. Estamos também preocupados com a matriz teórica, que considera o movimento corporal humano a partir das seguintes dimensões: “biomecânica, biofísica, bioquímica, fisiológica, social e cognitiva” (Reis, 2001, pg;33).

A Capoeira como formação social, intelectual e corporal do surdo.

Conforme assinala, Reis ( 2003, p.73).
“(...) da mesma forma que nossos meninos se dirigem diariamente às academias de Judô e Karatê, portando seus uniformes dessas lutas orientais, deseja o Autor que, em futuro próximo, se sintam eles orgulhosos de levar sob os braços o seu uniforme de capoeira, como símbolo não apenas de sua coragem e destreza, mas e sobretudo, de sua alma nacional, de sua consciência impregnada de brasilidade”.

A capoeira tem sido estudada por profissionais de diversas áreas, colocando-a como um rico componente que poderia fazer parte de diversas áreas do conhecimento humano em estudos científicos, pesquisas e trabalhos curriculares de ensino. (Marinho, 1980 apud Reis, 2003) diz que a capoeira é uma ginástica baseada essencialmente na destreza, na velocidade dos movimentos e não nos movimentos de força, porque o brasileiro traz na sua estrutura sômato-psíquica os elementos essenciais para ser ágil, flexível e imprevisível nos recursos de esquiva.

Mostra assim que o homem na sua historia tem o compromisso em suas praticas físicas que retratam o seu saber popular. Este seria um forte elemento presente nos estudos da prática da educação física como fins de aquisição dos benefícios sociais na compreensão da luta histórica do povo em busca de sua cidadania fazendo isso uma busca na questão da qualidade de vida social e coletiva, comenta (Reis, 2003, p. 74 e 75).

O aspecto emocional de uma criança, jovem ou adulto nos preocupa muito, quando se fala de stress, pois qualquer esporte também pode ser um gerador deste potencial. “... se não adequado às necessidades e potencialidades dos praticantes, principalmente se estes forem pessoas despreparadas para encarar situações complicadas do processo competitivo elas podem apresentar alguns indicativos como: medo de competir, preocupação co o resultado da competição, ansiedade e nervosismo, alterações no sono e no apetite e algumas vezes até o abandono da atividade (Reis, 2003)”. Toda pessoa tem seu próprio ritmo e devemos respeitar garantindo sempre seu bem-estar físico, psicológico e social.

O jogo da capoeira esta sempre requisitando o contato permanente entre os jogadores, reagindo e pedindo atenção de um com o outro. A promoção de uma capoeira em grupo tem sido vista como uma escola da vida encorajando corpos a removerem inibições, conhecerem outras pessoas, fazer amigos, entenderem a rivalidade e evitar inimizades.

A potencialidade do individuo surdo que treina a capoeira fica mais apurada, entendendo que a capoeira é uma arte/luta que ensina valores sociais e desenvolve características de habilidades motoras como a coordenação, agilidade, força e reflexo. Tem em sua totalidade a diversidade em matéria de som, ritmo e movimento, como diz (Reis, 2001, pg.117), em um estudo sobre a musicalidade da capoeira, que o estímulo fornecido à atividade de capoeira, talvez esteja ligado às músicas e aos instrumentos musicais que acompanham o “jogo” da capoeira. Vejo isso quando trabalhamos com os surdos, por eles não escutarem o som dos instrumentos, mas sentindo as vibrações passadas pelo próprio material a pessoa surda entende isso como um ritmo que se deve ser seguido, utilizando de outras habilidades de seu corpo para estar sempre em constante participação.

Considerações Finais

A capoeira como um meio de sociabilização, saúde e trabalho intelectual está sempre ligada a um exercício direcionado ao próprio profissional que está desenvolvendo a técnica do aprendizado. Contando com a inclusão do próprio surdo nestas atividades, percebemos que a convivência com pessoas ditas normais sem nenhum problema típico da surdez, no meio dos surdos é de grande importância, pois quebra o paradigma que os surdos só estão contidos em sua tribo (turma), e não podem ser incluído em outras turmas, só pelo fato de não escutar. É de suma importância a interação da capoeira ao meio surdo para o convívio harmonioso e alegre durante as atividades que são proporcionadas aos mesmos, pois a prática esportiva como já vimos falar é a atividade física que mais trabalha os três aspectos: físico-motor, cognoscitivo e sociabilização.

Foram os objetivos deste trabalho analisar a inclusão dos surdos na capoeira, contando com as literaturas que aqui estão citadas e a prática da capoeira como esporte e educação.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CICCONE, Marta. Comunicação Total: Introdução*Estratégia*A Pessoa Surda – Editora: Cultura Medica Ltda, 1990.
REIS, André Luiz Teixeira. Capoeira: Saúde & Bem-Estar Social – Brasília – Editora: Thesaurus, 2006
CARVALHO, Fernando Rogério de. A Atuação profissional do professor de educação física e de capoeira para ensinar portadores de necessidades especiais mentais – Trabalho de Conclusão de Curso (Tcc) – Educação Física. Curitiba, 2003.
QUADROS, Ronice Müller de. Educação de Surdos – A aquisição da Linguagem. Porto Alegre: Artes Medicas, 1997.
KIRK, Samuel Alexandre. Educação da Criança Exepcional. São Paulo: Martins Fontes,1987.
LAPIERRE, Andre. Psicomotricidade relacional e análise corporal da relação. Curitiba: UFPR, 2002. (pesquisa;nº63)
REIS, André Luiz Teixeira. Educação Física & Capoeira: saúde e qualidade de vida. Brasilia: Thesaurus, 2001.
SANTOS, Aristeu Oliveira dos. Capoeira Arte-Luta Brasileira. Curitiba: Imprensa Oficial do Estado, 1993.
SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A Capoeira Escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro (1808 - 1850). - 2ª ed. rev. e ampli. – Campinas, SP: Editora da UnicamP, 2004.
SÁ, Profª Drª Nídia Limeira de. Existe uma Cultura Surda? Texto – Internet – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação - http://www.eusurdo.ufba.br ou www.eusurdo.ufba.br/arquivos/cultura_surda.doc.
*SANTANA, Ana Paula. e **BERGAMO, Alexandre. Cultura e Identidade Surdas: Encruzilhada de Lutas Sociais e Teóricas Maio/Ago. 2005.


GRUPO MALTA SENZALA


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